A Armadilha do Deus ex Machina: Quando a Solução é o Problema
Em narrativas, o caminho tortuoso em direção à resolução de conflitos precisa ser pavimentado com coerência, criatividade e suspense. É nesse caminho árduo, e não na linha de chegada, que reside o poder da boa narrativa; capaz de prender a atenção do leitor e levá-lo a uma jornada verdadeiramente catártica. No entanto, existe uma armadilha traiçoeira na qual muitos escritores, dos novatos aos mais experientes, podem cair: o famoso Deus ex Machina.
Uma Entrada Triunfal… Ou Nem Tanto?
A expressão, originária do teatro grego, descreve um recurso cênico no qual um deus era repentinamente inserido na história por meio de mecanismos como guindastes e cordas (literalmente, “deus [vindo] da máquina”). Sua função? Resolver um conflito aparentemente insolúvel, muitas vezes de forma abrupta e pouco convincente.
Na literatura, o Deus ex Machina pode assumir formas diversas: um evento aleatório incrivelmente conveniente, uma mudança radical e inexplicável no comportamento de um personagem, uma informação crucial que surge do nada, a aparição de um personagem nunca antes mencionado e que resolve tudo… As variações são infinitas, mas o resultado é sempre o mesmo: a sensação de que o autor “deu um jeitinho” na história.
A Artificialidade como Pecado Capital
Seja qual for a máscara que assume, o pecado capital do Deus ex Machina reside na sua artificialidade. Ele surge como um recurso narrativo preguiçoso, um atalho utilizado para escapar de situações complexas que o autor não sabe como resolver organicamente. Em vez de desafiar a si mesmo a encontrar soluções criativas e coerentes dentro do universo construído, ele opta pela saída fácil, sacrificando a verossimilhança e o poder da narrativa em nome de um final (aparentemente) feliz.
As Consequências de um Encontro Divino Indesejado
As repercussões do uso excessivo do Deus ex Machina podem ser devastadoras para a sua história, minando a sua força e alienando o leitor:
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Enfraquecimento da Trama: Soluções mágicas e inexplicáveis diminuem o impacto dos obstáculos enfrentados pelos personagens. Se os problemas podem ser resolvidos a qualquer momento por uma intervenção externa, a jornada perde o sentido, tornando-se uma série de eventos aleatórios e desprovidos de significado.
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Ruptura da Imersão: A credibilidade da história é fundamental para que o leitor se permita imergir no universo ficcional. A aparição repentina de um elemento externo e inexplicável quebra essa ilusão de realidade, comprometendo a conexão emocional com a história e seus personagens.
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Frustração do Leitor: O público se sente enganado quando percebe que a resolução do conflito independe das ações e escolhas dos personagens. A sensação é de que o tempo investido na leitura foi em vão, já que o destino dos personagens sempre esteve nas mãos de um agente externo.
Evitando a Intervenção Divina: Dicas Práticas para Escritores Conscientes
Reconhecer o Deus ex Machina é o primeiro passo para evitá-lo. Ao construir sua narrativa, questione-se constantemente:
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A solução para o conflito é satisfatória por si só ou depende de um evento externo e aleatório? Explore as motivações dos seus personagens, as pistas já apresentadas e as regras do universo que você criou. A resposta geralmente está escondida em algum lugar da sua própria história.
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As pistas para a resolução foram plantadas ao longo da história ou surgem de forma forçada no clímax? O famoso “Chekhov’s Gun” nos ensina que se uma arma é mostrada no primeiro ato, ela precisa disparar no terceiro. Seja sutil, mas deixe rastros para o leitor seguir.
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As ações dos personagens influenciam diretamente o desfecho da trama? Garanta que seus personagens sejam agentes ativos na sua própria história, e não meros fantoches manipulados por forças externas.
Conclusão: Em Busca de Soluções Orgânicas e Poderosas
Lembre-se: uma boa história é como um quebra-cabeça complexo e instigante, onde cada peça tem seu lugar e contribui para a formação da imagem final. Em vez de recorrer a soluções mágicas que diminuem a inteligência do leitor e a força da sua narrativa, explore as infinitas possibilidades da criatividade e construa uma história coesa, envolvente e memorável, sem a necessidade de intervenções divinas.
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